Vinho de Talha
O vinho de talha com maior tradição em Vila Alva tem sido o branco, produzido a partir das castas Antão Vaz, Roupeiro, Manteúdo, Perrum, Diagalves (Uva Rei), Larião (Uva de Algibeira), entre outras. Todavia, sempre aqui se produziu igualmente uma quantidade significativa de vinho tinto, principalmente a partir da casta Tinta Grossa, e também algum “palhete”, que resulta da mistura de uvas brancas e tintas.
Produzido em talhas ou em potes, herdeiros das grandes vasilhas romanas, o vinho de talha, tanto o branco como o tinto, resulta de um processo de fermentação que acontece juntamente com a massa vínica, na gíria designada ‘mãe’, onde este vinho permanece, pelo menos, até ao dia de São Martinho (11 de Novembro), aí adquirindo as características que o distinguem de todos os outros vinhos.
Num pequeno caderno de apontamentos encontrado na nossa adega, Daniel Tabaquinho dos Santos (1923-1985), produtor de vinho de talha conhecido localmente por “Mestre Daniel”, descreve-se assim o seu processo de fabrico:
“[…] quando se começa a fazer o vinho novo, esmaga-se as uvas brancas ou tintas numa ciranda ou num moinho esmagador. Depois deita-se a massa da uva e o mosto na talha dando-se-lhe primeiro uma mecha boa; não deixar a talha cheia demais para não entornar. […] mexe-se duas vezes ao dia de manhã e à noite até baixar a fermentação e depois pode-se mexer só uma vez por dia. O tempo de fermentação depende das uvas. […] isto é como se faz o vinho.”
Antigamente, para permitir o seu consumo ao longo do ano, no final o vinho era retirado da ‘mãe’ e passado a limpo para uma nova talha, previamente mechada. Adicionava-se-lhe aguardente vínica e, por fim, azeite que, pela sua menor densidade, formava uma película superficial, isolando o vinho do contacto com o ar.
Para além do vinho produzido em grande quantidade nas adegas, existe um conceito muito interessante em Vila Alva que é o do ‘Tareco’. O termo ‘Tareco’ aplica-se ao(s) pequeno(s) pote(s) de barro que quase todos os vilalvenses têm para produzir vinho em casa, numa minúscula e improvisada adega ou mesmo na garagem, exactamente pelo mesmo método de vinificação do vinho de talha.
O dia de São Martinho é um dia importantíssimo no calendário do vinho de talha. É neste dia que se abrem as portas das adegas e começam as provas do vinho novo. Em Vila Alva sempre foi levado muito a sério o ditado popular:
‘No dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho’
Neste dia, as adegas enchem-se de gente, da terra e de fora, que aqui se desloca para conviver e provar o vinho da nova colheita, que sempre gozou de grande fama na região. Para além do aroma característico das adegas, é também inspirador o cantar do vinho no alguidar, no jarro ou mesmo no pequeno copo, que se vai encher, uma e outra vez, directamente à talha.
Após uns copinhos, irrompe o cante… e até os mais reticentes, os ainda algo inibidos ou mesmo os desafinados, arriscam acompanhar uma moda.